Trecho Dom Casmurro de Machado de Assis
“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios.”
Confesso que quando parei para tentar ler “Dom Casmurro” o sono falou mais alto.
Lembro-me como hoje. No primeiro ano
do Ensino Médio, minha professora de Português deu um trecho do livro, quando
li menos que um capítulo da obra, eu
fiquei com raiva de Bentinho por duvidar de Capitu, duvidar do amor dela e de
sua fidelidade.
Pouco tempo depois desta leitura que
parou somente no trecho, pude assistir o filme “Dom”, baseado na obra de
Machado de Assis. Neste filme Marcos Palmeira faz o papel de Bentinho, Bruno
Garcia é Miguel e Maria Fernanda Cândido é a Capitu, no entanto com nome de
Ana. Assistindo tal filme, lembrei do esquecido trecho que li no Ensino Médio e
ao assistir o filme, (que é um releitura contemporânea da obra), bateu
novamente a vontade de ler o clássico de Machado.
Como no trecho que coloquei acima de
Dom Casmurro, em Maria Fernanda , via a verdadeira Capitu, o olhar dela era,
para mim, os mesmos olhos de ressaca descritos no livro. Confesso, que quando
li o trecho do Ensino Médio, pensava no fundo que Capitu poderia sim ter traído
Bentinho, mas o amava demais. Mas, quando vi o filme, fiquei do lado da “Capitu
moderna” e a defendi em pensamento, fiquei com raiva daquele “Bentinho moderno”
e tão paranóico quanto parecia o do livro.
Tempos depois veio a série “Capitu”,
que série maravilhosa! E novamente Maria Fernanda Cândido fez o papel de
maneira esplêndida e apaixonante! Michel Melamed como Bentinho, fez o mais
paranóico homem traído da ficção (ou que pensa que foi traído).
Mantenho
minha opinião quanto aos clássicos, não há nada melhor do que aguçar a
curiosidade do aluno para que ele queira ler sim um cânone. De nada adianta
impor um livro ao aluno e crer que ele lerá o livro inteiro e que não correrá
atrás de um resumo ou análises de obras na internet.
Assim
como no projeto em que eu e meu parceiro Alex estamos trabalhando, defendo as
obras contemporâneas e creio que elas têm tanto valor quanto aos cânones.
Afinal, devemos valorizar atualmente a literatura que nos rodeia, por meio da
internet muitos autores de talento tem sido reconhecidos e devem sim ser
valorizados!
Machado
de Assis e suas obras devem ser conhecidas por nossos alunos, no entanto
devemos rever conceitos e lidar de uma outra forma com os clássicos. A extrema
paixão que minha professora do Ensino Médio demonstrou ao contar a história de
Bentinho e Capitu, despertou em muitos alunos a vontade de ler Dom Casmurro.
(Por Aline Caruso)
E o mais curioso é que esta obra continua a interessar grandes públicos leitores. Para além da traição, a delícia também está na exploração das personagens, das relações sociais, dos conflitos. Giselle.
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